“Maior do mundo”, “Templo do Futebol Mundial”, “Maracanã” e o informal “Maraca” são algumas das alcunhas do Estádio Jornalista Mário Filho, inaugurado em 16 de junho de 1950. A obra durou menos de dois anos até a entrega daquele que foi o palco da abertura e da final da Copa do Mundo naquele ano.
Mas até conquistar o reconhecimento mundial, o Maracanã passou por momentos delicados em sua longa história de 70 anos. E o primeiro deles foi exatamente antes do início das obras. Um grande embate político: de um lado o vereador Carlos Lacerda, que liderava uma campanha contrária, em razão dos custos (aproximadamente 250 milhões de cruzeiros) e da localização (o futuro governador do Estado da Guanabara queria o estádio em Jacarepaguá e não na Zona Norte); do lado favorável, tiveram grande representatividade o compositor Ary Barroso (também vereador na época) e o jornalista Mário Filho, que veio a dar nome ao estádio. O lugar finalmente escolhido para a imensa estrutura de concreto era, anteriormente, destinado a corridas de cavalo, o antigo Derby Club.
Passados os conflitos, o Maracanã debutou na Copa de 50 ainda inacabado. Após a inauguração, os torcedores tiveram de dividir espaço com enormes andaimes. A Seleção Brasileira foi finalista do Mundial, mas o título da quarta edição da Copa ficou com o Uruguai, que venceu por 2 a 1, no evento marcado para sempre como o “Maracanazo”.
O comentarista da Rádio Nacional, Waldir Luiz, destaca a importância do estádio.
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“O Maracanã, sem dúvida, teve grande importância, não só para o futebol do Rio de Janeiro, como para o de todo o país. Eu me recordo dos anos 60, ainda menino, e o Santos jogava suas grandes partidas no Maracanã. O time de Pelé foi bicampeão mundial decidindo contra o Milan, em uma partida memorável. O grande jogador só se sente realizado quando joga no Maracanã, antigamente essa era uma frase que a gente ouvia. Atualmente pode ter mudado um pouco, mas o Maracanã fez e continua fazendo história no futebol mundial”, analisa.
O comentarista Mário Silva lembra de momentos de protagonismo do Maior do Mundo.
“O Maracanã mostrou ao mundo craques brasileiros e trouxe outros de fora do país. Grandes equipes e seleções jogaram no estádio, como Real Madrid, Milan, Argentina e Alemanha. O que há de melhor no futebol. Aliás, não só no futebol, como também na música. Ninguém pode esquecer o show de Frank Sinatra, com mais 100 mil pessoas. Sinatra disse com muita propriedade que foi a maior plateia da carreira de sucesso que ele teve”, destaca o comentarista da Rádio Nacional.
O maior público presente registrado no estádio foi o de 199.854 espectadores, na final da Copa do Mundo de 1950. Se considerarmos apenas os torcedores que pagaram ingressos, ou seja, o público pagante, Brasil x Paraguai, em 1969, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo do México (1970), recebeu 183.341 torcedores. Foi no mesmo ano em que o Rei Pelé marcou, de pênalti, o milésimo gol dele, na partida contra o Vasco, na baliza que fica do lado esquerdo da Tribuna de Imprensa.
Outros grandes públicos foram registrados em um jogo de vôlei e em apresentações musicais, como uma edição do Rock in Rio. O Maracanã também recebeu a maior liderança da Igreja Católica: em 1980, o Papa João Paulo II rezou uma missa campal no estádio; ele voltou, em 1997, para uma segunda celebração.
A “Arena Maracanã”
O Estádio Jornalista Mário Filho passou por diversas reformas. Em agosto de 2010, teve início o maior processo de transformação do Templo do Futebol, para receber a Copa do Mundo de 2014. O Maracanã deixava a roupagem tradicional da época em que foi construído, na década de 50, para adotar um perfil considerado moderno, em consonância com regras estipuladas pela entidade máxima do futebol, a FIFA. Por conta dessa reforma, o palco das Copas de 1950 e 2014 ganhou a denominação de “Novo Maracanã”.
A reinauguração aconteceu em junho de 2013, em um amistoso entre Brasil e Inglaterra. A partida terminou empatada de 2 a 2 e o atacante Fred, atualmente no Fluminense, marcou o primeiro gol da nova era.
“De 1950 até hoje aconteceram várias reformas, sempre na tentativa de melhorar. Mas uma pena que a última transformou o Maracanã, o maior estádio do mundo, em uma arena. Foi feita a vontade daqueles que não tiveram carinho com um patrimônio nacional. Aquele Maracanã era um patrimônio do Brasil e da humanidade, como obra arquitetônica e tudo o que representava. A ganância, a vontade de ganhar dinheiro e a falta de respeito pela história jogaram o Maracanã no chão. Está de parabéns aquele Maracanã, o original, que vai completar 70 anos”, critica Mário Silva.
A Agência Brasil ouviu o torcedor, o verdadeiro consumidor do futebol. O flamenguista Rafael Porto, de 34 anos, faz coro com a opinião do comentarista.
“A modernidade destruiu o maior estádio do mundo. Hoje vou a um estádio que não me representa como torcedor. A essência de um jogo de futebol foi implodida pela famigerada fome de dinheiro dos caciques da política. O Maracanã virou um estádio médio, cada vez mais próximo de um teatro, frequentado por torcedores que curtem o evento, não o esporte”.
Já o tricolor Diego Gonçalves, 35 anos, frequenta o Maracanã desde os 9 anos de idade. Apesar da saudade da antiga atmosfera, ele elogia a nova estrutura.
“Hoje temos mais conforto, com as cadeiras e as catracas com sistema que permite entrar direto com o cartão do sócio, sem precisar enfrentar filas para comprar o ingresso. As torcidas organizadas mudaram: antes mantinham as bandeiras levantadas o tempo todo, agora levantam só na hora que o time entra e no gol. O antigo Maracanã não tinha tanto conforto, eram duas ou três pessoas no mesmo degrau. Para comprar ingresso muitas vezes eu dormi na fila. Por outro lado, as festas eram sensacionais, com tudo liberado – sinalizador, pó de arroz e papel picado, coisas que não podem mais. Sou um felizardo de ter curtido o antigo e o novo Maraca. Agora continuo curtindo com minha filha.”
A capacidade máxima atual do é de 78.838 espectadores. A remodelação custou mais de R$ 1 bilhão. Entre as inovações para o público estão a ampliação da cobertura, para proteção de chuva e sol, e a instalação de assentos.
Edição: Sergio du Bocage