A Polícia Civil concluiu na última semana o inquérito sobre o suposto confronto entre criminosos e policiais militares ocorrido sete dias após o assassinato do advogado Renato Nery, em Cuiabá. A principal descoberta da investigação foi de que a arma utilizada no homicídio do advogado foi implantada pelos próprios militares na cena do confronto, numa tentativa de forjar a origem da arma usada no assassinato e afastar suspeitas sobre o envolvimento dos militares no crime.
A tentativa de encobrir a ligação dos policiais com o homicídio já havia começado a vir à tona em março deste ano, quando um laudo da Polícia Civil apontou que a bala que matou Renato Nery foi disparada por uma arma pertencente à Polícia Militar. A arma foi localizada durante o cumprimento de mandados da Operação Office Crime – A Outra Face, deflagrada em 6 de março. A partir daí, a ligação entre os militares e o crime ficou mais evidente.
De acordo com a Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável pelas investigações, exames periciais e outras provas demonstraram que os suspeitos abordados no suposto confronto – registrado no dia 12 de julho do ano passado – não fizeram uso de arma de fogo, como alegaram os policiais. Ainda assim, duas armas foram apresentadas posteriormente pelos militares como supostamente apreendidas nessa ocasião – uma delas, justamente, a que havia sido usada para matar Renato.
As investigações apontam que os PMs tentaram forjar a cena para atribuir a terceiros o uso da arma e, assim, ocultar seu envolvimento direto no crime. Os quatro policiais militares envolvidos foram ouvidos mais de uma vez sobre a ligação da arma com o homicídio do advogado, mas todos optaram pelo direito ao silêncio.
Indiciamentos
Receba as informações do ATUALMT através do WhatsApp:
Clique aqui para receber as notícias no seu WhatsApp.
Diante das evidências, a DHPP indiciou os quatro policiais, integrantes do Batalhão da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam), pelos crimes de homicídio com a qualificadora de assegurar a impunidade de outro crime (com relação à vítima fatal no falso confronto), tentativa de homicídio (em relação a duas outras vítimas, sendo uma delas alvejada), porte ilegal de arma de fogo e fraude processual, por alteração da cena do crime.
Os militares indiciados são: Wailson Alessandro Medeiros Ramos, Wekcerlley Benevides de Oliveira, Leandro Cardoso e Jorge Rodrigo Martins. Eles foram presos preventivamente durante a Operação Office Crime – A Outra Face e seguem custodiados no batalhão da PM, à disposição da Justiça.
Com a conclusão do inquérito sobre o falso confronto e os indiciamentos formalizados, os autos foram encaminhados ao Ministério Público para análise e possível oferecimento de denúncia.
Outros envolvidos
No total, seis foram indiciados por envolvimento no assassinato do advogado. Além dos quatro policiais militares, também foram responsabilizados o caseiro Alex Roberto de Queiroz Silva, apontado como o autor dos disparos que mataram Renato Nery, e o policial militar Heron Teixeira Pena Vieira. Ambos também estão presos preventivamente e devem responder por homicídio triplamente qualificado.
Morte de Renato
O advogado foi baleado no dia 5 de julho de 2024, assim que chegava ao seu escritório na Avenida Fernando Corrêa da Costa, em Cuiabá. Ele foi socorrido e submetido a uma cirurgia de emergência no hospital Jardim Cuiabá, mas morreu no dia seguinte.
A DHPP aponta que o crime foi motivado por uma disputa por terras.
