Um estudo conduzido por hematologistas da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo mostrou que o transplante autólogo de medula óssea (TMO) para o tratamento de mieloma múltiplo pode ser feito com eficácia e segurança sem congelamento.
De acordo com os pesquisadores, isso pode ajudar a abrir um novo capítulo ao aumentar o acesso a esse tipo de tratamento no Brasil.
O mieloma múltiplo é um tipo de câncer hematológico, ou seja, que afeta o sangue. O transplante autólogo de medula óssea, quando a medula vem do próprio paciente, é um dos principais tratamentos da doença.
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Normalmente, esse procedimento envolve o congelamento das células antes da infusão. Entretanto, isso exige que o hospital tenha um centro de criopreservação, o que não está amplamente disponível devido ao alto custo.
A possibilidade de realizar o procedimento sem a necessidade de congelar as células coletadas da medula aumentaria o acesso a esse tratamento no país e esse estudo demonstra que isso é possível.
No trabalho, publicado na revista Springer Nature, BMT (Bone Marrow Transplantation), uma das principais publicações científicas em transplante de medula óssea do mundo, 105 pacientes com mieloma múltiplo foram divididos em dois grupos. Destes, 51 receberam células-tronco criopreservadas e os outros 54, receberam enxertos a fresco.
Os resultados mostraram que a utilização de células a fresco não só é segura, como mais eficaz para o procedimento. Houve redução no tempo de internação, nos efeitos colaterais e a nova medula voltou a funcionar mais rápido. A médica Juliana Matos Pessoa, líder do estudo, acredita que o procedimento também seja mais econômico para o sistema de saúde.
“O transplante de medula óssea a fresco, sem congelamento, se mostrou bastante eficaz e é uma grande conquista, pois viabiliza a realização do procedimento em instituições de saúde que hoje não possuem bancos de sangue estruturados e equipamentos de criopreservação”, afirma Pessoa.
A hematologista explica que o transplante com células não congeladas já é utilizado em outros países. Mas a criopreservação antes do procedimento ainda é a técnica mais utilizada.
Segundo ela, a diferença e o grande desafio dessa técnica é a logística. No procedimento padrão, o paciente recebe uma medicação que induz as células da medula óssea a entrarem na corrente sanguínea. Como em uma doação de sangue, uma máquina filtra o material para retirar as células-tronco saudáveis, que darão origem à nova medula. Em seguida, essas células são congeladas para aguardar o melhor momento, de acordo com disponibilidade do paciente e do hospital, para realizar o transplante.
Se as células não foram congeladas, o tempo entre sua retirada e a infusão é de, no máximo, 48 horas. Esse curto espaço de tempo exige planejamento entre o paciente, a equipe do banco de sangue que coleta essas células, a equipe que coordena a internação e a equipe que vai acompanhar o tratamento.
Isso porque antes de receber o transplante, o paciente é submetido a sessões de quimioterapia que atacam as células malignas e também destroem a medula. Apesar do nome, o procedimento não envolve uma cirurgia. As células são infundidas por um cateter, como em uma transfusão de sangue.
“Muitos lugares não têm um centro de criopreservação. Isso faz com que eles tenham que ter parceria com algum lugar que tem essa estrutura ou, simplesmente, não realizam o transplante. A possibilidade de realizar o tratamento a fresco se torna uma opção para esses centros e também diminui o custo geral do transplante. Essa é uma boa opção para conseguir difundir mais o procedimento, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS)”, conclui Pessoa.
Fonte: IG SAÚDE