A Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT) firmou um acordo de cooperação técnica com o Instituto Ecossistemas e Populações Tradicionais (Eccos) para fortalecer a cultura indígena em Mato Grosso. Um novo termo já é estudado e será celebrado para ampliar as ações em prol da cultura afrodescendente.
A primeira ação do acordo de cooperação é a realização da oficina “Ritxõkò/Ritxòò: As Bonecas de Barro do Povo Indígena InyKarajá”. São 8 turmas, com estudantes de Cuiabá e Várzea Grande. A primeira, dos alunos da Escola Municipal Aristides Pompeo de Campos, do bairro Cidade de Deus, de Várzea Grande, realizou as atividades na tarde desta terça-feira (31.08), no Museu de História Natural de Mato Grosso.
Secretário de Estado de Educação, Alan Porto participou da abertura da oficina e enfatizou a importância do trabalho com os alunos para o fortalecimento das culturas indígenas e afrodescendentes. “Esse caminho se constrói dentro da escola e a parceria com o Instituto Eccos nos ajuda a ampliar essas ações tão necessárias para a educação”.
Superintendente de Diversidades Educacionais da Seduc, Lúcia Santos reforça que o trabalho com o Instituto Eccos e outros parceiros vai além de cumprir o que determina a Lei nº 11.645/2008, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de história e culturas indígenas nas escolas públicas e privadas, e dos Temas Contemporâneos Transversais: Meio Ambiente e Pluralidade Cultural.
“Trabalhar e incentivar a cultura indígena é um papel de todos os envolvidos com a educação. O ideal seria que nem uma lei, obrigando esse ensino, existisse. Deveria ser natural. Mas existe porque ainda temos muito desrespeito. E, por isso, ações e parcerias como essas são fundamentais para vencermos. Valorizar essa cultura, o que essa oficina está fazendo aqui hoje, é levar equidade, é trabalhar com decência, valorizando e respeitando todos os povos”.
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Vice-presidente do Eccos e coordenadora do Museu de História Natural de Mato Grosso, Enir Maria Silva afirma que a parceria com a Seduc é mais um passo para preservar as populações tradicionais, que é o objetivo do Instituto.
“Esse convênio veio para nos ajudar nesta preservação e, ao mesmo tempo, divulgar os saberes tradicionais. O indígena, que é muito importante para que a gente preserve nossa cultura, nossos antepassados. E espero que seja o primeiro de muitos outros convênios com a Seduc”.
Ela reforçou que o Instituto Eccos e o Museu acreditam que as crianças têm o pensamento para a mudança e preservação das culturas.
Superintendente interina do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de Mato Grosso (Iphan), Amélia Hirata enfatizou que as bonecas Ritxõkò/Ritxòò são patrimônio imaterial, registrado em 2012. “E são ações como essa, de parceria, que fazem as nossas ações de salvaguarda valerem a pena”.
Oficina
A oficina pedagógica, que versa sobre a história e cultura indígena, patrimônio material/imaterial e educação ambiental através da Ritxõkò/Ritxòò, começou nesta terça-feira e segue com turmas de 20 alunos, por período, até sexta-feira (03.09). As vagas já estão esgotadas.
A produção das Ritxõkò e Ritxòò é mediada pela professora indígena Caren Kellyn Karitymaru, do município de Luciara. Ela ensina o passo para os estudantes e explica que as bonecas são referência cultural significativa para o povo Karajá, passada de geração para geração. “Mostram nossa cultura, a pintura, a caracterização”.
Ela explicou aos estudantes a diferença entre Ritxõkò e Ritxòò, sendo que a primeira escrita, na língua nativa, é falada pelas mulheres e a segunda pelos homens. Nas aldeias, é uma atividade exclusiva das mulheres.
Diretor da Escola Estadual Indígena Hadori, Célio Kawina Ijavari, também de Luciara, reforça que antigamente a cultura era repassada pelas famílias, mas hoje é na escola que isso acontece.
Ele enfatiza ainda que além da importância cultural, as bonecas Karajá têm importância financeira para as aldeias. “Essa oficina ajuda a conhecer o trabalho do nosso povo. É importante para mostrar para alunos brancos, para reconhecer a cultura Iny. A Lei 11.645 fala é para saber igual, direito igual. É importante para aprenderem fazer, contar história, o respeito”.