O livro “Todos olhos em mim” (Quintal edições) é resultado de um trabalho de conclusão de curso em jornalismo da autora Aline de Campos, e reúne diferentes passagens e histórias na vida de cada uma das pessoas ouvidas para a construção da obra, que, segundo a escritora, é indicada às pessoas que não compreendem a importância da discussão sobre raça no país.
A escrita do livro aconteceu depois de muitas conversas com um colega de faculdade sobre a solidão do corpo negro. “Aliando a busca por informações sobre o assunto e analisando as relações amorosas em minha própria família – em maioria, as mulheres da minha família não são brancas, mas também não são lidas socialmente como negras pela pele clara e muitas delas casaram-se com homens negros – , surgiu a ideia de estudar relacionamentos inter-raciais”, contou.
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No entanto, o processo de pesquisa e escrita não foi fácil para a autora, sobretudo pelos relatos ouvidos. “Me tiravam o sono. Olhava para o meu filho, que é uma criança negra, relembrava situações racistas, e só pensava em como através das palavras passar o sentimento dos entrevistados. Meu objetivo era trazer as sensações que falassem por eles mesmos”, diz.
Já a inspiração para o título, conforme nos conta Aline, veio de uma canção do rapper mineiro Djonga e também do rapper Tupac. Ao final da música “10/10”, Djonga recita a carta de Tupac à Madonna, sobre as dificuldades raciais na relação deles. “Imediatamente, me veio à cabeça a frase mais divulgada de Tupac “All eyes on me” (todos os olhos em mim), que é título de uma música bastante conhecida dele. Por mais que o contexto seja diferente (o rapper fala de violência policial, dificuldades no gueto, perseguição), a frase por si só diz muito sobre a presença de corpos pretos nos espaços”, explica.
A obra propõe também um diálogo com diferentes intelectuais racializados, como Lélia Gonzalez, Bell hooks, Angela Davis, Carla Akotirene, Abdias Nascimento, Neusa Sousa Santos, entre outros. “Tive um encontro muito bonito com intelectuais negros. Um encontro de pensamentos mesmo. É comum o resgate ancestral e cultural nos textos de autores negros e isso permeou um caminho, felizmente sem volta, para minhas pesquisas. No livro, trago autoras que venho trabalhando nos últimos anos e conceitos fundamentais para se pensar a sociedade atual. Ler essas mulheres mudou minha vida”, avalia Aline.
O livro tem também capa de Maria Tereza Morais e ilustrações de Aline Lima.
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