Nos últimos anos, as redes sociais têm sido um dos principais canais de disseminação de informações sobre saúde mental , mas também têm contribuído para um fenômeno preocupante: a banalização de diagnósticos de transtornos mentais e do uso de medicamentos .
Nos dias de hoje usamos as redes sociais para compartilhar momentos da nossa vida, pensamentos, emoções e interagir com outras pessoas. Infelizmente, muitas pessoas fazem mau uso dessas plataformas. Muitas pessoas compartilham suas experiências relacionadas ao diagnóstico de algum quadro psiquiátrico em busca de empatia e também para conscientizar sobre essas condições. Entretanto, há inúmeros casos em que há uma disseminação de desinformação sobre doenças mentais e pessoas sem um diagnóstico verídico
A pressão social para obter diagnósticos pode levar ao fenômeno do auto diagnóstico, onde as pessoas podem interpretar sintomas com base em informações superficiais e não especializadas encontradas online, com diversas fontes que não são especialistas da área oferecendo sintomas e descrições de condições psicológicas. Embora o acesso à informação seja algo vital no mundo em que vivemos, autodiagnosticar-se com uma doença mental pode ser prejudicial e até perigoso.
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Na maior parte dos casos, a pessoa pode nem ter um transtorno mental. Ela pode estar deprimida por conta de uma outra doença que pode causar sintomas semelhantes aos da depressão, mas pode não ser depressão. Ou podem até apresentar episódios depressivos, mas não ter a doença. Por isso, é importante consultar um médico psiquiatra que será capaz de fazer um diagnóstico correto.
Muitas pessoas confundem sintomas. Um exemplo: a ansiedade é um sentimento natural, algo comum comum, uma reação espontânea do corpo, a qualquer evento externo. Existe um tipo de ansiedade onde o episódio estressor é tão grave que pode desencadear uma crise. E a existe a doença transtorno de ansiedade. São coisas distintas que devem ser analisadas e tratadas de forma específica.
Esse fenômeno pode resultar em uma busca por medicamentos ou de psicoterapias sem a devida avaliação médica e diagnóstico adequado. A automedicação para doenças mentais pode levar a complicações graves de saúde. Muitos medicamentos prescritos para transtornos mentais têm efeitos colaterais significativos e podem interagir de forma adversa com outros medicamentos ou com outras condições médicas. Sem a supervisão de um médico, os pacientes correm o risco de experimentar reações adversas sérias ou até mesmo colocar suas vidas em perigo.
O uso indiscriminado e sem acompanhamento correto de medicamentos tem potencial de dependência e abuso de substâncias. Muitos medicamentos utilizados no tratamento de doenças mentais têm potencial para causar dependência quando usados de forma inadequada ou sem orientação médica.
É importante compreender que os medicamentos psicotrópicos são ferramentas importantes no manejo de transtornos como depressão, ansiedade, bipolaridade e esquizofrenia e prescritos para ajudar a estabilizar o humor, reduzir sintomas graves e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e são de fato necessários.
É preocupante pensar em como essa pressão pode afetar pessoas mais vulneráveis, principalmente aquelas que já tenham predisposição a desenvolver algum quadro psiquiátrico. A busca por validação social nas redes sociais pode levar a pessoa a uma competição para exibir sofrimento ou para se encaixar em uma determinada narrativa. Isso pode distorcer percepções sobre saúde mental e a complexidade dos transtornos.
Vale ressaltar que o tratamento de transtornos mentais não se resume apenas a medicação. É uma abordagem holística e envolve diversas estratégias. É individual e personalizado de acordo com o caso de cada paciente. A psicoterapia, por exemplo, é muito indicada para os pacientes. Além disso, outras estratégias mais simples também podem ajudar no tratamento de doenças mentais e melhorar a qualidade de vida do paciente, como mudanças no estilo de vida, incluindo prática regular de exercícios físicos, boa alimentação, atividades de lazer e boa qualidade do sono.
Enquanto as redes sociais podem ser poderosas ferramentas para aumentar a conscientização sobre saúde mental, o preconceito contra pessoas que fazem uso de medicamentos para transtornos mentais ainda é profundamente enraizado na sociedade, muitas vezes decorrente de desinformação e estigma que pode ser potencializado através da desinformação nas redes sociais.
Dr. Antônio Geraldo da Silva é médico psiquiatra formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG. Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria e Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo. Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Autor de dezenas de livros e artigos científicos em revistas internacionais. Palestrante nacional e internacional. É Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia.
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Fonte: Nacional