Um estudo publicado na revista científica Nature Communications revelou que a seca que atinge o Cerrado brasileiro é a mais severa dos últimos 700 anos. Segundo os os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), as mudanças climáticas têm sido mais intensas na região Central do Brasil, sendo o aumento das temperaturas cerca de 1 °C acima da média global, que é de 1,5 °C.
Essa condição faz uma parte significativa da água da chuva evapore antes de se infiltrar no solo. O fenômeno traz diversas consequências, como mudanças no padrão de chuva, que está mais concentrada em poucos eventos, e menor recarga nos aquíferos.
Para se chegar aos resultados, autores revisaram os dados de temperatura, vazão, precipitação regional e balanço hidrológico da Estação Meteorológica de Januária, em Minas Gerais e os relacionou com as variações da composição química de estalagmites de uma caverna no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, situada no mesmo município.
“Com o uso de dados geológicos foi possível expandir a percepção da seca causada pelo aquecimento global para um período bem anterior ao dos registros meteorológicos. Dessa forma, conseguimos fazer a reconstituição do clima até sete séculos atrás. Isso permitiu não somente provar que o Cerrado está mais seco, mas que a origem dessa seca tem relação com o distúrbio do ciclo hidrológico causado pelo aumento da temperatura induzida pela atividade humana na emissão de gases do efeito estufa ”, afirma Francisco William da Cruz Junior, professor do Instituto de Geociências (IGc-USP) e um dos autores do estudo, em entrevista à Agência Fapesp.
“A mensagem é que não há paralelo com a seca que estamos vivenciando atualmente. É importante frisar que identificamos uma tendência de aumento da temperatura que começa nos anos 1970, mas o fato é que ainda não atingimos o pico de aquecimento. Portanto, a expectativa é que esse fenômeno piore ainda mais”, completou.
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IMPORTÂNICA DO CERRADO
Cobrindo 25% do território brasileiro e 34% de Mato Grosso, o bioma é responsável por boa parte da alimentação produzida no país, além da geração de energia por meio de barragens de hidrelétricas. Nos estados do bioma são produzidos 86% do milho, 50% da soja, 49% do milho, 43% do feijão e 34% da carne.
Em termos ambientais, o Cerrado é uma das regiões de maior biodiversidade do mundo, com mais de seis mil espécies de árvores e 800 espécies de aves, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Além disso, é fundamental para a manutenção do equilíbrio hidrológico no país. Considerado o ‘Berço das Águas’, concentra nascentes que alimentam oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras. Sob seu solo, também estão concentrados três grandes aquíferos, o Urucuia, Bambuí e parte do Guarani, uma das principais reservas de água doce no mundo.