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Senado abre exposição sobre a ditadura militar e reforça defesa da democracia

Após a sessão especial em celebração à democracia brasileira, ocorrida nesta terça-feira (2), os senadores e participantes do evento seguiram à galeria do Senado para acompanhar a abertura da exposição de fotos do repórter fotográfico Orlando Brito, feitas durante a ditadura militar. Para os participantes, as imagens fazem referência a um dos períodos mais tristes da história do país e servem de inspiração para que a democracia seja cada vez mais fortalecida. 

Composta por 41 fotos, a exposição traz algumas fotos feitas por Brito e premiadas fora do país, como a sequência de quatro registros intitulada Missão Fatal, que mostra o exercício de soldados em um 7 de setembro. Com este trabalho, Orlando foi o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio World Press Photo na categoria “sequência”. Entre outros destaques da exposição, estão também a primeira foto do presidente Castello Branco, feita em 1964, fotos da cobertura do movimento “Diretas Já” e do falecimento de Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito pelo colégio eleitoral após 21 anos do regime militar. 

Na avaliação do senador Randolfe Rodrigues (S/Partido-AP), Orlando Brito conseguiu sintetizar em fotos o que foi, sobretudo, “a resistência do povo brasileiro aos anos de arbítrio”. Ele ressaltou que eventos dessa magnitude são essenciais para não se deixar esquecer o que aconteceu no período de ruptura, servindo de exemplo para que novas tentativas não venham a ocorrer. 

— É importante lembrar que a democracia foi interrompida em 64, tentou ser interrompida em 8 de janeiro de 2023 e tem que ser lembrado porque não pode ter anistia a quem atenta contra a democracia. Porque ela é patrimônio do povo brasileiro de ontem, de hoje e de sempre. Patrimônio pelo qual brasileiros morreram, entregaram a vida, então a democracia não pode ser atentada e quem contra a ela atenta deve responder pelo crime que comete. 

Também presente à exposição, o jornalista Cid Benjamin afirmou que o processo de redemocratização do Brasil, para ele, deixou uma lacuna ao deixar de definir especificamente o papel das Forças Armadas no regime democrático. Ele considera fundamental que o país avance nesse debate, resgate as memórias desse período “abrindo os arquivos” com o objetivo de evitar uma nova ruptura.  

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— Quando eu quero relembrar 64 não é para colocar A, B ou C na cadeia, é para que, principalmente, saibam o que aconteceu e que também se criem anticorpos para que a barbárie não se repita. 

Cid Benjamin fez parte da resistência armada contra a ditadura e integrou o Movimento Revolucionário 8 de Outubro. 

A abertura da exposição também foi acompanhada por familiares do ex-presidente João Goulart e das vítimas e perseguidos durante o governo militar. 

O ex-ministro e ex-deputado federal, José Dirceu, reconheceu o trabalho do fotojornalista Orlando Brito como fundamental no registro da luta pela redemocratização. 

— Ele não foi só um repórter na história do nosso país como foi também um participante dessa luta democrática. Nós não podemos, não devemos jamais esquecer. 

Alexandre Santini, que relatou ter tido o pai perseguido durante o período militar, reforçou a relevância da mostra das imagens em um espaço que representa uma grande conquista da retomada democrática do país.  

— Estar aqui nesse momento, reforçando a necessidade de cada vez mais lembrar, não esquecer, e fazer dessa memória um estímulo para que as novas gerações possam construir e contribuir com o fortalecimento da democracia brasileira. 

Todas as fotos da mostra foram publicadas em jornais e revistas da época, sendo que muitas delas figuraram nas capas. Em 58 anos de carreira, Orlando Brito trabalhou como repórter fotográfico e editor de fotografia de grandes jornais e revistas, como O Globo, Revista Veja e Jornal do Brasil, além de ter criado sua própria agência de noticias. Realizou reportagens nos mais variados segmentos, viajou para mais de 60 países, mas a cobertura da política, em Brasília, foi um grande marco na sua carreira. Ele faleceu em 2022 aos 72 anos.

As obras ficarão expostas até o dia 12 de abril e o público poderá visitar no período das 9h às 18h. A galeria fica no anexo 1, no corredor de acesso entre o Senado e a Câmara. 

“Tempos de Chumbo”

Ainda nesta terça-feira, de forma simultânea, foi lançado no Espaço Cultural Ivandro Cunha Lima o livro Tempos de Chumbo. A obra foi organizado pela filha de Orlando, Carol Brito, e foi idealizada pelo canal de jornalismo independente MyNews, que também organizou a exposição, e publicado pela Almedina Editora.  

O livro é coletânea de 22 artigos sobre o regime militar ilustrado com as imagens feitas por Orlando Brito. Os artigos foram escritos por pessoas que viveram as dificuldades e a violência do período. Entre elas, estão três familiares do ex-presidente João Goulart, que foi destituído pelos militares no Golpe de 1964; Frei Betto; Cid Benjamin; Eduardo Suplicy; entre outros. Cada artigo também é ilustrado com fotos de Orlando Brito.  

O livro conta com a apresentação do presidente do Senado e do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco, e reúne textos de outros políticos como o ex-ministro e ex-deputado federal José Dirceu, além de acadêmicos e representantes de instituições como o ministro do Supremo Tribunal de Federal (STF) Gilmar Mendes e o presidente da Casa de Rui Barbosa, Alexandre Santini.  

Participaram do evento os filhos do ex-presidente João Goulart, João Vicente Goulart e Denize Fontella Goulart, além da viúva de Jango, Maria Thereza Goulart. Também esteve presente a subprocuradora-geral da República, Ela Wiecko.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado

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