Mato Grosso,

domingo, 24

de

novembro

de

2024
No menu items!


 

InícioGeralDebatedores defendem mudanças na lei para conter poluição da água no DF

Debatedores defendem mudanças na lei para conter poluição da água no DF

Pesquisadores e representantes de órgãos públicos defenderam nesta quarta-feira (27) a atualização da legislação ambiental como estratégia para reduzir a contaminação das águas no Distrito Federal. O assunto foi tema de um debate na Comissão de Meio Ambiente (CMA), proposto pelos senadores Leila Barros (PDT-DF), presidente do colegiado, e Jorge Kajuru (PSB-GO).

Para Leila Barros, a água no Distrito Federal “enfrenta sérias ameaças de contaminação e redução de disponibilidade”. A senadora destacou que o Cerrado desempenha “um papel fundamental na regulação hídrica” do Centro-Oeste e de outras regiões do país.

— O desmatamento do Cerrado, a ocupação desordenada do solo e a poluição dos nossos rios e mananciais são questões urgentes que demandam nossa atenção e ação imediata. Devemos reafirmar nosso compromisso com a proteção desses recursos e redobrar nossos esforços para garantir a segurança hídrica para as futuras gerações do nosso “quadradinho” — disse a presidente da CMA.

O professor José Francisco Gonçalves Júnior, do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), analisou a saúde de 52 rios do Distrito Federal. De acordo com o pesquisador, os mananciais “têm o processo de envelhecimento acelerado em função do desgaste ambiental”. Segundo o professor, a legislação em vigor não é capaz de proteger os rios contra a poluição por determinadas substâncias.

— Talvez a gente precise rever nosso arcabouço legal federal para dar mais suporte aos estados. Se a lei federal tem algumas falhas, essas falhas acabam reverberando nos estados. Existem compostos químicos que ainda não estão previstos em lei. Os metais têm previsão. Mas os fármacos não têm e os microplásticos não têm. Existe todo um grupo de contaminantes emergentes descritos em literatura científica que o nosso arcabouço legal ainda não [contempla] — explica.

Receba as informações do ATUALMT através do WhatsApp:
Clique aqui para receber as notícias no seu WhatsApp.

Poluentes persistentes

Além dos poluentes artificiais, também preocupa a presença de substâncias biológicas que resultam do cotidiano. A diretora de Planejamento e Administração do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Maria Silvia Rossi, alerta para a presença de contaminantes identificados em mananciais do Distrito Federal, cujo controle não está previsto em lei federal. Ela destaca, no entanto, que a proteção contra esses poluentes deveria ser imposta por normas locais.

— Que contaminantes são esses? Boa parte diz respeito ao nosso modo de vida. Hormônios femininos, que saem na urina. A Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal) não trata. Não tem a prerrogativa de tratar. Não tem como retirar esses hormônios. A gente volta com eles na água. Hormônios animais, de carnes que a gente come. Não trata. Metais pesados de óleos dos caminhos e pneus. Tem chumbo aí. Vai tudo para o Lago Paranoá, e a gente vai beber essa água — exemplificou.

O superintendente de Recursos Hídricos da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa), Gustavo Antonio Carneiro, também defendeu a atualização da legislação ambiental.

— Apesar de ter sido bastante inovadora para a época, a lei já carece de inovações. A gente tem novos poluentes, poluentes persistentes, hormônios, fármacos e uma série de outros contaminantes que estão no nosso ciclo do dia a dia: uso da água, descarte, reutilização da água, descarte. Como a gente vai tratar isso? Como a gente vai adaptar nossas tecnologias e estações de tratamento? Tudo isso precisa de avanço — salientou.

Águas Emendadas

O professor José Vicente Bernardi, do programa de pós-graduação em Ciências Ambientais da Universidade de Brasília (UnB), coordena um estudo sobre o impacto da contaminação por mercúrio na Estação Ecológica Águas Emendadas (Esecae). O local é uma das mais importantes reservas naturais do Distrito Federal por abrigar um fenômeno único: a união de duas grandes bacias da América Latina — a Tocantins/Araguaia e a Platina.

A Esecae é margeada por uma rodovia federal (BR-020) e quatro distritais (DFs 128, 131, 205 e 345). Segundo Bernardi, a presença de metais tóxicos na área ultrapassa os patamares determinados pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

— São metais pesados oriundos da rodovia, do pneu, da combustão, do próprio asfalto. Todos esses metais pesados, todos eles, estão acima do limite estabelecido pelo Conama. Isso vai para o corpo d’água. Não tem como segurar. São vários: arsênio é elevado, cádmio é elevado, mercúrio é elevado. É o legado que a rodovia está deixando — afirmou.

O coordenador da Associação Guardiões das Águas Emendadas (GAE), Marcelo Benini, lembrou que, além das rodovias, a área da Esecae está circundada pela monocultura, o que favorece a contaminação por agrotóxicos.

— É possível um governo permitir que uma unidade de conservação e proteção integral, que abriga um dos fenômenos mais importante do Brasil e da America do Sul, ser rodeada de soja? O que está faltando para o governo do Distrito Federal editar um decreto, ou a Câmara Legislativa aprovar uma lei, para criar uma distância de segurança para a Esecae? O que falta para isso ser feito? — questionou.

Cinturão verde

O padrão de agronegócio e a ocupação desordenada do solo urbano na região também foi apontado como um problema. Ao criticar essa realidade, a coordenadora do Fórum de Defesa das Águas do Distrito Federal, Lúcia Mendes, disse que o impacto da exploração fundiária compromete a qualidade da água.

— Temos repetido ao longo dos últimos anos que o modelo de ocupação urbana e o modelo de agricultura em que tem se investido está condenando este território à morte pela seca. Estamos devastando Cerrado para construir condomínios de luxo em áreas de recarga de aquíferos, sob o argumento de que Brasília tem um deficit habitacional. Mas, nas áreas onde estão querendo colocar esses condomínios, o público que se quer almejar é de classe média alta — afirmou.

O subsecretário de Meio Ambiente do Distrito Federal, Renato Santana, reconheceu a responsabilidade histórica do poder público na ocupação desordenada do solo. Ele defendeu a criação de “um cinturão verde” em cidades goianas que circundam o Distrito Federal.

— Quando [o ex-presidente da República] Juscelino Kubitschek institui a interiorização do país, o decreto de criação de Brasília previa um cinturão verde. Mas esse cinturão verde virou cidades: Águas Lindas, Pedregal, Novo Gama, Céu Azul, Valparaíso, Santo Antonio do Descoberto. A discussão sobre as águas requer a vinda para dentro deste jogo, imediatamente, deste cinturão de cidades que nos envolve, que impacta o Distrito Federal, sim — disse.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado

Últimas notícias