O texto a seguir pode conter descrições de extrema curiosidade e é recomendado para todos os “operanders”.
Frequentadora ávida de Bienais do Livro e com o sonho de se tornar escritora, Mabê Bonafé usou o Facebook em 2015 para fazer uma previsão do futuro: em 2022, estaria lançando um livro de terror. Não muito distante do gênero, a apresentadora lançou, de fato, uma obra neste ano, o “Modus Operandi: Guia de True Crime”, ao lado de Carol Moreira.
O sucesso do podcast “Modus Operandi” refletiu na grande comunidade de admiradores, os “operanders”. Os fãs prestigiaram o livro e as autoras no sábado (2), na 26ª edição da Bienal do Livro de São Paulo. A dupla reuniu uma multidão de fãs ao longo da palestra mediada pelo jornalista Ivan Mizanzuk, do “Caso Evandro”, que escreveu, inclusive, a orelha da nova obra.
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“É muito legal o que a gente construiu. Tudo isso começou em 2020, então, a gente está aí há dois anos. A gente já passou de 154 episódios, mas de certa forma ainda é recente, são dois anos. Em pouco tempo, conseguimos reunir uma galera tão legal, tão engajada nos conteúdos e em tudo que propomos”, conta Mabê em entrevista ao iG Gente ao lado de Carol, com quem também entregou muitas curiosidades do livro.
Do capítulo cortado às partes mais desafiadoras do processo de escrita, confira 5 fatos revelados por Mabê Bonafé e Carol Moreira sobre “Modus Operandi: Guia de True Crime”:
1. Não é Carol ou Mabê, é o Modus
Mabê descreve o processo de escrita em duas pessoas como “desafiador”, mas ressalta que o objetivo era o mesmo: manter a essência do Modus como fio condutor do livro. “Não é para ser nem meu e nem para ser da Carol, é para ser o Modus. É a linguagem construída dentro do Modus, mais leve, fala de assuntos que são extremamente pesados, mas de uma forma mais didática, com o nosso jeitinho e trazendo indicações”, diz.
“Esse processo foi muito difícil, de encontrar qual é o tom da voz, qual é o ponto”, segue analisando a autora, que também aponta como ocorreu a separação de trabalho prático entre elas. “Dividimos em temas e capítulos que cada uma queria mais escrever. No fim, mexemos muito no capítulo uma da outra. Então foi realmente um trabalho feito por nós duas. A gente lia, conferia, corrigia e olhava as coisas da outra […] Era um processo de edição intenso e colaborativo”, complementa.
2. Cada capítulo renderia um livro
Bonafé explica como elas “bateram a cabeça” no início do processo de escrita, já que o gênero do crime real apresenta muitos desdobramentos que podem ser explorados de diferentes maneiras. “Por mais que a gente tivesse definido um guia de true crime, a gente pode falar de qualquer coisa. Pegar qualquer tópico dentro de true crime. Então, a gente foi definindo os tópicos e mudava de ideia no início […] para conseguir desenvolver”, analisa.
“Cada capítulo poderia ser um livro. Então [foi desafiador] até o momento de encontrar onde colocar e como resumir sem ficar superficial. De como falar sem criar 700 páginas em cada capítulo […] A gente está falando de assuntos que, de verdade, têm vários livros de cada um desses capítulos”, completa Mabê.
Carol entrega que os capítulos mais desafiadores para ela foram os que envolviam questões de Direito e transtornos mentais: “A gente não é criminóloga, não é do Direito, não é psicóloga e não é policial. Cada capítulo é uma área diferente. Somos jornalistas, então, fomos atrás de quem manjava. É difícil aprender palavras de direito, entender porque que isso está aqui de um jeito. Ou até questões de transtornos mentais, foi super difícil entender como a gente pode falar disso, como pode falar sem ser capacitista, sem ser ofensivo e tomar muito cuidado”.
Carol ainda reforça que, apesar dos desafios, elas se empolgaram com todas as partes da escrita e especialmente com os perfis criminais apresentados no livro.
Bonafé também compartilha que os capítulos de investigação e perfil criminal foram os que mais precisaram de cortes e revisões. “A tendência a virar um TCC é enorme […] O de perfis estava um TCC. E aí a gente teve que voltar a cortar, pensar o que era o ponto dele”, relembra Moreira.
3. Capítulo cortado
Falando em cortes, as podcasters também revelaram que uma parte ficou de fora durante o processo de revisão. “O livro tem 400 páginas, mas ele era muito maior. Cortamos muita coisa. Tinha um capítulo, por exemplo, que era sobre crime. Qual a origem do crime? Por que acontecem crimes? Aí ele era um pouco filosófico demais. É super interessante, mas não sei se tem tanto a ver com o que propomos”, pontua Carol.
“Foi mais nesse sentido de ver o que combinava e o que realmente ia deixar a experiência das pessoas mais legal”, complementa a autora, que ainda lembra como foi preciso selecionar quais temas iriam trazer informações mais relevantes para o público que consome outros conteúdos de true crime.
“Porque a ideia era isso: de ler o guia e usufruir mais quando você for assistir a um documentário ou ver uma série de investigação. Você vai saber porque a polícia está fazendo aquilo. Algumas coisas a gente olhou depois e falou que não estava acrescentando como o guia”, pondera Moreira.
Apesar de cortes eventuais, as autoras frisam que trouxeram informações pertinentes para os leitores, como contextualizações considerando a conjuntura brasileira envolvendo o crime — assim como já fazem no podcast. “Não fazia sentido a gente estar no Brasil e fazer um livro super americano ou gringo. Em todos os capítulos a gente traz questões brasileiras. Ou casos brasileiros, ou como funcionam tais coisas, tipo a investigação, como é no Brasil a polícia técnico científica e o que eles fazem”, diz Carol.
“No sistema carcerário, não tem como falar das prisões sem falar de racismo. Em todos os capítulos a gente perpassa por questões brasileiras. Explica a diferença de como funciona um julgamento aqui e um julgamento gringo. […] E óbvio, trazendo curiosidades de outros países também, como quantos jurados tem em Portugal, na Itália”, conclui.
4. Ouvindo de quem entende bem
Para conseguir trazer informações ainda mais precisas envolvendo o crime brasileiro e internacional, Carol e Mabê conversaram com diversos especialistas. “Tem muitos autores renomados sobre os temas [abordados]. Contamos com uma pesquisadora e especialista em direito revisando tudo. Especialista em transtornos mentais também, da psicologia para o capítulo sobre transtornos. Tivemos especialistas de todas as áreas ajudando nesse processo, dando entrevista, colaborando”, entrega Moreira.
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Carol ainda analisa que as “principais fontes” são os autores dos muitos livros que já existem na área e Bonafé entende como esse é um método já aplicado no podcast. “De certa forma, a gente já usava isso no podcast, mas claro que para o livro tem um pouco mais de conceito, tem um pouco mais de discutir alguns pontos. Procuramos, pesquisamos, conversamos com pessoas da área, foi tipo um mix de várias coisas para conseguir criar esse conteúdo e também acessar as pessoas que teriam coisas relevantes para falar do assunto”, explica Mabê.
5. É preciso ouvir o podcast para ler o livro?
Questionada se existe alguma diferença na recepção de tais conteúdos entre os fãs do podcast e os apenas interessados em true crime, Bonafé responde que não. “Acho que não tem diferença. Quem é o ‘operander’, como a gente chama quem ouve o Modus Operandi, vai encontrar alguns pontos ali, algumas questões. Mas o livro, no fim, não é para os ‘operanders’, ele é realmente para quem gosta de true crime”, conta.
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“A pessoa que vai receber esse livro vai ter acesso a várias partes do processo, tem investigação, sistema carcerário, sistema judicial, casos arquivados, serial killers, têm acesso a vários temas e aí isso vai enriquecer na hora da pessoa assistir alguma coisa. São algumas curiosidades, algumas informações em relação a esse assunto que as pessoas vão encontrar e você vai assimilando”, completa.
Fonte: IG GENTE