Reportagem do Fantástico mostrou que a suposta organização criminosa formada por policiais de batalhões de elite da Polícia Militar de Mato Grosso, investigada na “Operação Simulacrum”, não escolhia alvos. Os policiais miravam bandidos dispostos a cometerem assaltos que, na verdade, seriam emboscadas para executá-los.
Entre as vítimas dos policiais, está o soldado Oacy Taques, morto numa suposta emboscada realizada atrás do condomínio Belvedere em julho de 2020, junto com outras cinco pessoas. “Os executores desses crimes, a bem da verdade, não sabiam quem de fato era executado”, explicou o promotor Vinicius Gahyva.
Há também pessoas que não tinham passagens policiais. “Ele não fez assalto, ia fazer. Simplesmente, julgaram e condenaram. Condenaram a morte”, disse o pai de um entregador de aplicativo.
Ao todo, o grupo é suspeito de armar seis emboscadas e matar 24 pessoas. O promotor Vinicius Gahyva afirmou que as cenas encontradas nos seis supostos tiroteios não indicam a existência de confronto entre policiais e bandidos. “Não havia de fato confronto as ações policiais. Os tiros foram todos muito próximos, tiros encostados”, descreveu.
O delegado Fausto Freitas, da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP), afirmou que as declarações do informante dos policiais, que se tornou delator, foram confirmadas com outras evidências coletadas no decorrer das investigações. “Trabalhamos para checar as informações que ele trouxe e grande parte delas, através de provas técnicas, foram confirmadas”, explicou.
Receba as informações do ATUALMT através do WhatsApp:
Clique aqui para receber as notícias no seu WhatsApp.
DESCOBERTA
Os policiais civis chegaram ao suposta trama de policiais militares após 4 sobreviventes e outras duas testemunhas prestarem depoimentos. Eles relatavam a presença de um carro vermelho, que seria do membro da quadrilha que organizou o assalto que seria realizado, mas que, na verdade, era do informante da Policia Militar.
Os policiais chegaram ao ocupante deste carro, que confessou ser o informante dos policiais. “Essa pessoa organizava o assalto e comunicava a inteligência dos batalhões de qual seria o caminho que devia ser percorrido para que pudesse se montar as emboscadas”, completou Gahyva.
Uma das emboscadas, segundo o informante, teria sido “solicitada” pelo tenente Alisson Rocha Brizola, da Força Tática da PM. Eles tramaram um confronto na região do Bonsucesso, em Várzea Grande, onde quatro pessoas foram mortas. Pelo “serviço”, o informante recebeu R$ 700.
Aliás, o pagamento recebido pelo informante que ajudava levar pessoas a morte era considerado “irrisório”. “Há depoimentos no sentido de que os policiais o pagavam até mesmo com armas e drogas”, frisou o delegado Fausto. Por outro “confronto armado”, o informante recebeu um celular como pagamento.
Uma outra forma de pagamento foi o recebimento do celular de um dos mortos. Familiares das pessoas mortas lamentaram que os policiais tenham atuado como “juízes” e decidiram “condenar” as pessoas a morte. “Poderiam muito bem prender todos envolvidos e a justiça ser feita de outra forma”, disse a mulher de um dos mortos.
OUTRO LADO
A comandante-geral adjunta da Polícia Militar, coronel Francyane Siqueira Chaves, negou a existência de “grupo de extermínio” na corporação. Disse ainda que os fatos investigados na operação também são analisados internamente.
“Jamais temos esse tipo de conduta. Oficialmente falando, se tem esse tipo de conduta, somos a primeira instituição a querer que a verdade venha a tona. E tomaremos as medidas cabíveis”.