Quem visitar o Museu do Amanhã, na Praça Mauá, região portuária do Rio, poderá fazer uma viagem ao maior bioma tropical do mundo com a exposição temporária Fruturos – Tempos Amazônicos, em sete áreas, apresentando a biodiversidade em toda a sua extensão e o conhecimento presente na região. A mostra propõe novas descobertas na relação entre a floresta e o clima, mas chama atenção para a urgência da sua conservação.
O passeio começa em um cenário com silhuetas de árvores inundadas pelas cheias. No teto, vê-se uma sucuri e um pirarucu, enquanto sons de seres aquáticos envolvem o visitante no ambiente amazônico. Também no começo da exposição, a atenção do visitante-viajante vai ser atraída por uma folha real de coccoloba, árvore regional, de cerca de 1,60 metro (m), uma das maiores folhas do mundo.
Na sequência, o contato é com vários objetos usados por povos indígenas. Nas paredes, placas indicam a quantidade de idiomas falados na Amazônia. Como a exposição tem uma série de experiências interativas, ali o viajante vai poder ouvir o som de instrumentos indígenas ao se aproximar de cada um, entre eles um tambor e uma flauta.
Em mais um esquema interativo, sentado ao redor da caracterização de uma sumaúma, considerada uma das maiores árvores da Amazônia, o visitante verá como vivem as comunidades que habitam a floresta, como os agricultores, os extrativistas e os ribeirinhos. A viagem continua por um balcão sinuoso que remete a um rio com três afluentes. Cada um deles representa um fator que coloca em risco a preservação do bioma. Um vídeo projetado no local mostra a expansão das pastagens e a construção de grandes obras de infraestrutura.
A exposição reserva ainda um ambiente festivo que retrata a cultura local em diferentes aspectos. Ali, o visitante conhecerá as músicas e danças da região, a culinária, a produção literária e as roupas usadas em ocasiões especiais de festa, como a do povo Ashaninka e uma de apresentações de marabaixo. Poderá ver também um pedaço da corda do Círio de Nazaré. Para a criançada, a diversão está garantida também em pula-pulas em forma de vitória-régia, com a presença de um boto cor-de-rosa.
Quase terminando o passeio, a projeção de vídeos traz depoimentos de habitantes da região e as suas perspectivas para o futuro. Em mais uma interação, a associação do potencial da bioeconomia com os saberes tradicionais e científicos surge com o Jogo do Pirarucu. Ainda na sala, o público verá uma estrutura que remete à Torre Atto, que tem 325 metros e é usada para o monitoramento de dados meteorológicos, químicos e biológicos.
No fim, uma experiência com realidade virtual em uma pequena maloca o visitantes participa de um jogo em que precisa coletar uma série de produtos na floresta ao se tornar um avatar de um indígena.
Preparação
Segundo o curador da exposição e diretor de de Conhecimento e Criação do Museu do Amanhã, Leonardo Menezes, a mostra começou a ser trabalhada em 2017, quando tiveram início as viagens à região para retratar as diferentes dimensões atuais da Amazônia e quais são os cenários que se abrem para o futuro.
“A exposição fala sobre os diferentes tempos que coexistem na Amazônia hoje e sobre como podemos criar um novo modelo de desenvolvimento socioeconômico, baseado em três eixos: no conhecimento científico, nos saberes e práticas das populações tradicionais e no compromisso com a floresta em pé”, disse Menezes na cerimônia em que a exposição foi apresentada para ipara convidados.
Para Menezes, o modelo de desenvolvimento nos últimos 50 anos não gerou riquezas, desmatou mais de 20% da floresta e não privilegiou os saberes tradicionais de pessoas que há milênios interagem com a floresta. “Pesquisas científicas revelam que territórios indígenas, por exemplo, têm as maiores taxas de conservação da biodiversidade”, afirmou, durante a cerimônia de apresentação da mostra para convidados.
Objetos
A exposição é a que tem o maior número de objetos da história do Museu do Amanhã a partir do reaproveitamento de peças de outras mostras que já passaram por lá, e a data da abertura coincide com o aniversário de seis anos deste importante espaço cultural da cidade.
No passeio, o visitante vai ver que a mostra não está restrita ao Brasil, porque a Amazônia se espalha por oito países e um território e tem, atualmente, mais de 30 milhões de habitantes, milhares de espécies de plantas, o que a transforma em uma das regiões de maior biodiversidade do mundo.
O objetivo da exposição é estimular o público a refletir sobre as possibilidades de se envolver em um modelo de desenvolvimento que conserve a floresta em pé, principalmente pela união entre ciência e saberes tradicionais. Por isso, vai receber estudantes. “Como é que essa pauta de Fruturos-Tempos Amazônicos chega na favela? Como ela chega para várias crianças e adolescentes que sofreram processo de evasão nas escolas? É sobre isso que a gente está pensando, quando fala em convivência. Como a gente faz essa discussão chegar aqui para os vizinhos do museu?”, questionou Luana Génot, consultora para Convivência da instituição.
Para a indígena Vanda Ortega, da etnia Witoto, é preciso valorizar como os povos originários olham para a Amazônia. “A gente tem que falar das pessoas, porque são elas que mantêm a floresta de pé. É a partir do modo de vida dessas populações que vivem às margens dos rios e em seus territórios que ainda é possível contemplar o verde que se tem na região da Amazônia”, afirmou.
O vice-presidente executivo de Relações Institucionais e Comunicação da Vale e presidente do Conselho do Instituto Cultural Vale, Luiz Eduardo Osorio, destacou que, quando se realiza uma exposição como esta, mantém-se um diálogo e se traz um olhar sobre a cultura da floresta, que tem riquezas culturais muito representativas da presença humana na região, mas também onde se convive com a devastação, que precisa ser combatida, e com o garimpo ilegal. “Nossas empresas precisam ser preservadas e as grandes empresas têm um papel fundamental nisso”, afirmou.
O cientista Paulo Artaxo, que é o consultor científico chefe da exposição, aponta como maior destaque da mostra a integração entre o bioma amazônico, o clima, as populações tradicionais e os mais de 30 milhões de pessoas que moram na região. “A exposição mostra os conflitos, as áreas de equilíbrio que existem e, desse ponto de vista, integra todos os principais fatores que marcam o desenvolvimento da região amazônica.”
Associação
O diretor-presidente do Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IBG), que administra o Museu do Amanhã, Ricardo Piquet, disse que a proposta de pensar o futuro, a partir da criação dessa instituição da prefeitura do Rio, espalhou-se pelo mundo e hoje está associada a diversos outros equipamentos culturais. “A Fundação em Amsterdam, que se chama Museum of Tomorrow International, coordena uma aliança de museus de ciência orientados para o futuro, como o Museu do Amanhã. É nisso que a gente vê a ideia genial do museu, ao falar do amanhã, que provocou inquietações em outros museus”, disse.
A exposição Fruturos – Tempos Amazônicos é uma realização do Museu do Amanhã, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão, a Prefeitura do Rio, o Instituto Cultural Vale, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), da Agência France Press, da Globo e da Agência Sapiens.
Edição: Nádia Franco