Já está disponível no canal do YouTube o projeto Amazonas em Libras a primeira websérie totalmente apresentada na Língua Brasileira de Sinais (Libras). Dividida em quatro episódios, a produção audiovisual Amazonas em Libras é dedicada à comunidade surda e apresenta o estado da Região Norte a partir do protagonismo da Libras. O material pode ser conferido também no Instagram. O lançamento ocorreu no último dia 6.
Dirigida pela jornalista e produtora cultural, Natália Lucas, e pelo acadêmico de Letras Libras da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e membro da comunidade surda, Ednilton Barreto, a websérie apresenta as riquezas turísticas, gastronômicas e culturais do Amazonas. O projeto recebeu o prêmio Feliciano Lana, com recursos da Lei Aldir Blanc, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, com apoio do Ministério do Turismo.
Para Natália Lucas, o trabalho foi muito bem recebido pelos surdos. Lembrou que a comunidade surda, diante da cultura ouvinte, está sempre representada em segundo plano, através de legendas ou janelas de interpretação em língua de sinais. “Acompanhar os surdos assistindo os episódios, interagindo com o conteúdo, é gratificante. Eles reconhecem a língua e recebem a informação da melhor maneira. Além disso, percebemos que eles estão aprendendo coisas novas”. Natália disse ainda que esta é a primeira vez que um produto audiovisual é produzido de forma integral no Amazonas, utilizando a Libras como língua principal.
Para Julyana Martins, surda, a quantidade de informações disponibilizadas no audiovisual a surpreendeu. “Sempre que nós temos acesso às informações em espaços culturais, no Amazonas, elas são limitadas, resumidas. Se vou em um museu, por exemplo, e tiver curiosidade, eu não consigo saber mais sobre; sempre tem uma pessoa que me explica uma coisa resumida. Dentro da minha família, as informações também são resumidas”, lamentou.
Ouvintes
Embora tenha sido produzida para atender prioritariamente o público surdo, a websérie não esqueceu a população ouvinte, que pode acompanhar a exibição, com narração e legenda em português.
A preocupação foi também inserir os surdos dentro do universo audiovisual. Por essa razão, um dos diretores é uma pessoa surda. Ednilton Barreto disse que a experiência foi enriquecedora. “Pude conhecer mais do trabalho de outros profissionais do audiovisual e, também, aprender com eles. Mas o principal foi poder atuar colocando a Libras como protagonista. Pensar a melhor forma de passar a informação respeitando a língua de sinais foi muito importante”, observou.
A ideia de Natália, adiada pela pandemia de covid-19, é inserir os surdos nas produções audiovisuais. “Nosso desejo é conseguir recursos para uma segunda temporada e a partir daí incluir oficinas de capacitação para os surdos. Queremos inserir esse público dentro de produções audiovisuais”, afirmou.
Cerca de 5,8% da população brasileira têm algum grau de deficiência auditiva, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010. Somente no Amazonas, cerca de 150 mil pessoas são surdas.
Edição: Valéria Aguiar