Somam-se a isso as participações em produções como “Carcereiros” e “13 Dias Longe do Sol”, ambas da Globo, “PSI”, da HBO, as montagens teatrais e a incursão pelo cinema, onde fez fez o curta “Eu, Minha Filha, Minha Mãe, Minha Vó”, com direção de Fernando Grostein Andrade, irmão de Luciano Huck, e o longa “Eu Sou Mais Eu”, dirigido por Pedro Amorim.
Pensa que é só? Não. Na pandemia, ele gravou o audiovisual de “Amor Pra Recordar”, de Gaby Amarantos e Liniker, e atuou no espetáculo on-line “(In) Confessáveis”, sob o comando de Marcelo Varzea. Para falar sobre esses e outros temas, o artista paulistano conversou com o site. Confira os melhores momentos na íntegra!
1. Como surgiu a chance para “7 Prisioneiros” e como foi a preparação?
Eu ensaiava uma peça quando recebi a ligação para fazer o teste. Não sei o porquê, mas já estava empolgado só de ir lá. Assim que cheguei, não tinha texto, eram apenas jogo e improviso entre os atores. Foi bem diferenciado, e o que mais importava era o silêncio da cena. Logo, passei na primeira fase e na segunda; na terceira, contracenei com o Christian Malheiros, e a química bateu. Então a Patrícia Faria, produtora de elenco, me ligou no fim de dezembro, avisando que interpretaria o Samuel.
2. O filme venceu prêmios no exterior e tem sido muito elogiado. Acha que ele será um divisor de águas na sua carreira?
Já está sendo. Estou bem emocionado com a repercussão, recebendo várias mensagens nas redes sociais de pessoas se identificando, refletindo e elogiando o trabalho. Ser artista no Brasil não é fácil. Sinto-me privilegiado por estar nele, com profissionais maravilhosos e um personagem que me permitiu descobrir tanto sobre meu ofício de ator.
3. Você soube que sua mãe passou por situação análoga à escravidão enquanto filmava “7 Prisioneiros”. Conte sobre a vida dela.
Depois de alguns ensaios, disse-lhe o tema do longa e relatei alguns casos que aconteciam na história, até que ela falou: “Filho, eu já passei por isso também”. E era normal naquela época. Veio de Tupã para São Paulo com dezessete anos para trabalhar como faxineira na casa de uma mulher que a trancava, não a deixava sair, não pagava o combinado e dizia que tinha dívidas por estar morando e comendo na sua residência. Experiências bem parecidas com as do filme. Nesse momento, entendi por que eu estava ali naquele projeto, e isso me deu mais gás para contar a narrativa do Samuel e, de alguma forma, “vingar” a da minha genitora e de tantas pessoas que vivem/viveram esse pesadelo.
4. Como o relato da sua mãe mexeu na sua atuação?
Eu entendia que, de alguma forma, estava ali contando a narrativa do meu personagem, a dela e a de tantas outras pessoas. Fiz uma preparação externa com Estrela Strauss, que me ajudou a conduzir e a atingir esse estado sem me machucar, sem abalar meu emocional. E tem uma cena impactante (não vou dar spoiler, mas nela dou um brado). Não sabia como agir, e o diretor Alex Moratto, sem ter noção da história da minha progenitora, na sua sensibilidade, chegou ao meu ouvido e disse: “Dá o grito da escravidão”. Não precisei de mais nada, pois já tinha ideia do que fazer.
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5. Na semana passada, foi comemorado o Dia da Consciência Negra. Como você analisa o momento do mercado artístico brasileiro para atores negros?
Estamos ocupando mais espaços, mas ainda é complicado dizer que o segmento audiovisual está totalmente aberto para nós. Tem uma dificuldade ainda, dentro de um racismo estrutural que perdura, de entender nossos corpos, nossas experiências, nossos lugares. Inclusão não é nos colocar para interpretar um estereótipo do que a sociedade enxerga o que é ser uma pessoa preta. Queremos aprofundamento e ocupar posições reais.
6. Você já passou por situações de preconceito ao longo de sua carreira?
Já cheguei a sets de publicidade, por exemplo, onde era o protagonista e as pessoas nem olhavam na minha cara até saber que era o ator. Ouvi coisas, como: “Você nem é preto demais, nem branco para esse trabalho, fica no meio-termo”. Quiseram alisar meu cabelo para “ficar mais clean “. Infelizmente, exemplos não me faltam para contar. Antigamente não sabia me posicionar, mas hoje não deixo nada passar.
7. Além do filme em que atua com Rodrigo Santoro, você também fez o clipe de Liniker e Gaby Amarantos. Como é contracenar com nomes tão relevantes no meio artístico?
Esse trabalho foi um dos mais lindos que já fiz. Fui tão bem recebido pela Gaby que minha admiração só cresceu. “Amor Pra Recordar” é bem importante para a Gaby, e ela confiou em mim para ajudar a contar essa história. Sou grato por isso. E, nas primeiras cenas com a Liniker, estava me tremendo inteiro (risos) porque sou muito fã. Mas é tão generosa e calma que logo criamos uma química, e tudo fluiu. Enfim, são duas deusas da nossa cultura nacional.
8. Você tem 26 anos e 16 de carreira. Sente vontade de fazer novela e de tentar o reconhecimento internacional?
Gostaria de ter essa experiência com teledramaturgia, sim. Há amigos que atuam nessa área e dizem que é uma loucura gostosa. Tenho curiosidade. Pretendo, em certo momento da minha vida, estudar atuação em outro país e, quem sabe, já conseguir alguns trabalhos.
9. Aliás, quais seus planos para os próximos anos?
A primeira coisa é prosseguir na dedicação aos estudos. Sinto que o artista precisa se reinventar o tempo todo. E quero continuar trabalhando com o que amo e voltar aos palcos, que é a minha maior saudade. E, de resto, me jogar no que vier. Eu adoro experimentar e fazer coisas novas. Seja novela, filme, série, teatro, o que for, eu estou dentro e me dedicando ao máximo.
10. Quais são as suas inspirações?
Há vários artistas incríveis no Brasil e no mundo que me inspiram, como a Grace Passô. Assisti à “Vaga Carne”, uma de suas peças, e o trabalho de atriz, junção de corpo, voz e intenção me fizeram ficar extasiado. Outro cara pelo qual sou apaixonado é o Donald Glover ou Childish Gambino. Ele é plural. A série “Atlanta” em que atua e a qual roteiriza é uma aula sobre a estrutura racial em que vivemos.