“Vai ser uma noite louca, como sempre”, diz o diretor de videoclipes Alexis Gudino, sentado nos fundos do Cais da Imperatriz, no bairro da Saúde, na noite do último domingo. Ele sabe bem do que está falando: não é a primeira vez que comanda uma gravação com o Now United, grupo pop com 18 integrantes de 18 países (no Rio, estavam “apenas” 14 deles), sensação entre os adolescentes do mundo inteiro, tendo a presença de fãs. Foram cerca de 150 Uniters, como é conhecida a fanbase da banda, que chegaram às 18h e só arredaram o pé às 4h da manhã, quando finalmente terminou o primeiro dia de filmagem de “Heartbreak on the dance floor”, música e vídeo a serem lançados ainda antes do fim do ano.
O influenciador digital Raphael Vicente, morador da Maré, fez um stories às 5h12min da manhã de ontem, ao chegar em casa depois do que considerou “uma das melhores experiências da vida”. “Em 2019, depois que vi um clipe deles no YouTube, eu quis fazer um igual e criei meu grupo de dança, que é o Dance Maré”, diz Raphael. “É por isso que falo: ‘eu danço hoje, gosto do assunto por causa do Now United’. E sempre que posso faço vídeo deles. Hoje, falo um pouquinho de inglês também por causa deles. O Now United é o que o mundo deveria ser: a união de todos os povos”.
De fato, o grupo é um protótipo de Nações Unidas dentro da música pop. A formação atual conta com integrantes do Brasil (a paulista de Guarulhos Any Gabrielly, de 19 anos), da Alemanha, da Austrália, do Canadá, da China, da Coreia do Sul, da Costa do Marfim, da Espanha, dos Estados Unidos, das Filipinas,da Finlândia, da Índia, da Inglaterra, do Japão, do Líbano, do México, da Rússia e do Senegal.
Produtor das Spice Girls
A ideia de juntar jovens de diversas nacionalidades em torno de hits juvenis para a primeira global band do mundo veio de Simon Fuller, britânico por trás do sucesso das Spice Girls na década de 1990 e do formato do programa “American Idol”. Em 2017, ele saiu rodando o planeta em busca de candidatos e levou os selecionados para uma “peneira” final, em Los Angeles. No fim de 2017, foram anunciados os 14 integrantes (a brasileira Any estava entre eles) e, em abril de 2018, ele estreavam oficialmente, vindo a ganhar mais quatro integrantes, aos poucos, desde fevereiro de 2020. Mas, desde o início, o fã-clube brasileiro ganhou cadeira cativa nessa assembleia geral. “Tudo meio que começa aqui (no Brasil). Os primeiros Uniters que conhecemos foram brasileiros, e eles só crescem”, diz Sina Deinert, de 23 anos, representante da Alemanha, que já esteve em São Paulo, em junho de 2019, para as filmagens do clipe “Paraná”, e no Rio, em dezembro do mesmo ano, para o vídeo de “Na na na”.
Sina era uma das que mais batia papo com os fãs, inicialmente posicionados numa espécie de “corredor” por onde os integrantes passavam numa das cenas do clipe. Lá estavam Camila Mendes, de 21 anos, e Vinícius dos Santos, de 25 anos, ambos estudantes, que nos intervalos das tomadas tentavam garantir suas selfies com os integrantes. Antes de começarem as gravações, também faziam planos para a turnê que o grupo faz no Brasil em 2022.
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No próprio domingo, o Now United divulgou nas redes sociais que a “Wave your flag tour” passa por aqui entre 12 e 26 de março — no Rio, no dia 24, ainda sem local definido. A pré-venda dos ingressos acontece em 8 de dezembro, e a venda, em 10 de dezembro. “Minha ideia é acampar para pegar grade”, diz Camila.
Coreógrafo do grupo desde o final do ano passado, Nicky Andersen, visto pelos fãs como o “integrante 19”, diz que nunca encontrou nada parecido com o que acontece por aqui. “Não tinha ideia de quantos fãs eles tinham no Brasil”, diz o dinamarquês, que andou documentando no Instagram a algazarra do público na porta do hotel em Copacabana. “Já trabalhei com Taylor Swift e Shakira, mas nunca vi nada como Uniters. Não sei o que a banda tem, acho que é o mundo todo com eles”.
Amor e união
A vinda do Now United ao Brasil para gravar o clipe “Heartbreak on the dance floor” é um reencontro com o país que ia receber a turnê “Come together” em 2020. Os shows não aconteceram por causa da pandemia de Covid-19. No auge do sucesso, cada um teve que ir para seu país de origem e se virar on-line para manter a base de fãs de ativa. “Tínhamos muito planos para os mais diversos países, e aí veio a pandemia. Ficamos apavorados, com medo, sem ideia do que ia acontecer. Mas começamos a imaginar novas formas de interagir com os fãs, pensar fora da caixa. Nos adaptamos a um mundo que era novo para todos”, diz a brasileira Any Gabrielly, de 19 anos.
Como um grupo que vive desde o início no esquema “um clipe para cada música” (com isso, o canal do YouTube já tem quase dois bilhões de visualizações), o jeito foi colocar a turma para dançar remotamente. “Criamos videoclipes dentro de casa, o que foi difícil às vezes, mas ficou bom”, diz Sina, a alemã.
Outra estratégia destes tempos foi adicionar novos integrantes: o libanês Nour Ardakani, de 19 anos, chegou em setembro de 2020; a costa-marfinense Mélanie Thomas, de 18 anos, em novembro também do ano passado; e o espanhol Alex Mandon Rey, de 16, em fevereiro de 2021. “Acho que o Now United é um exemplo para tanta gente porque o mundo não é muito leve, né? E aqui tem felicidade, alegria, com a nossa dança, música e arte”, diz o espanhol Alex, mais jovem e o último a entrar no grupo.
Mas também tem papo sério, diz Any Gabrielly. A brasileira ressalta que a pluralidade da banda chama a atenção para diversas questões políticas e sociais. “Especialmente por sermos de todos os tipos de etnias e lugares, cada um tem uma coisa muito forte dentro de si. Para mim, a causa antirracista é muito importante. Cresci no Brasil, nós sabemos como funciona o racismo aqui e no mundo”, diz a jovem, com 6,6 milhões de seguidores no Instagram, e que volta e meia conversa sobre o assunto em live com os fãs. “Cada um tem uma coisa diferente para lutar. Quem acompanha o Now United tem um pouquinho da experiência de cada causa social, mas, no final, pregamos o amor e a união. Tentamos trazer todos os assuntos possíveis para a mesa”.