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Polícia Federal chega à empresa de Cuiabá que ‘lava’ ouro

Gazeta Digital

Empresa de Cuiabá está no alvo da Polícia Federal por compra ilegal de ouro, retirado de terras indígenas na região sul do Pará. As investigações apontam para a existência de um esquema no qual o ouro extraído ilegalmente era “lavado” e depois exportado para a Europa, principalmente para a Itália. O esquema criminoso foi descoberto após deflagração da Operação Terra Desolata em outubro deste ano.  

Uma das empresas investigadas é a Ofir Intermediações de Cuiabá Ltda., cujo nome fantasia é Ofir Gold. A empresa tem no seu quadro societário os sócios Pedro Eugênio Gomes Procópio da Silva que tem ligações com empresários da mineração de Cuiabá.  

As investigações levantam suspeita de que a Ofir Gold tenha sócios ocultos, uma vez que as contas das empresas são movimentadas por diversas outras pessoas. A Ofir Gold mudou o quadro societário pelo menos duas vezes nos últimos anos, o que segundo a Polícia Federal representa movimentação atípica.  

A apuração da PF descobriu que a Ofir Gold enviou entre 13 de junho de 2019 e 7 de julho de 2020 aproximadamente R$ 26 milhões à Cooperativa de Garimpeiros de Ourilândia (PA) e Região (Cooperouri). De acordo com a PF, as movimentações indicam, a princípio, a atuação da empresa e seus sócios na compra e venda de metais preciosos, por não haver suspeita de que os recursos tenham sido transferidos por outra razão, que não a compra do ouro. A operação financeira, segundo a PF, é provavelmente ilícita, uma vez que a Ofir Gold não possui autorização para comprar ouro e atuar como agente financeiro.

A cooperativa Cooperouri, que recebeu recursos da Ofir Gold e de outras empresas de estados da região Norte do país, conseguiu autorização de extração de ouro em 2016 e passou a atuar além do território autorizado pela Agência Nacional de Mineração. A Permissão de Lavra Garimpeira (PLG) recebida pela empresa foi desrespeitada. Além disso, a PF acredita que a cooperativa tenha realizado transações com garimpeiros que atuam em terras indígenas do povo Kayapó.  

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Em alguns casos, a Cooperouri lucrou milhões ao pagar por ouro extraído ilegalmente por garimpeiros que repassavam apenas R$ 8 mil a indígenas da etnia Kayapó. O lucro foi tanto que entre 2019 e 2020, a Cooperouri movimentou R$ 57 milhões.  

“O perfil dos envolvidos, juntamente com o fluxo do dinheiro, sugere a existência de organização criminosa estruturada para extrair ilegalmente o ouro na região Sul do Pará, principalmente na Terra Indígena Kayapó, vendêlo para grandes centros no Brasil, como Goiânia/GO e São Paulo/SP. “Lavá-lo” e, por fim, exportá-lo para Europa, principalmente Itália”, diz trecho do pedido de bloqueio de bens solicitado pelo delegado Tiago Lima da Silveira e deferido pela Justiça Federal.  

Ainda de acordo com as investigações, pelo menos outras cinco pessoas movimentaram as contas da Ofir Gold. Por meio de relatório de cadastro de clientes do sistema financeiro do Banco Central do Brasil, a PF verificou que cinco mulheres residentes em Cuiabá movimentaram a conta da empresa acusada de compra ilegal de ouro.  

Operação Terra Desolata

A Operação Terra Desolata da PF levou ao bloqueio de R$ 470 milhões de empresas que movimentaram ouro ilegal. Na investigação, a PF constatou que, aproximadamente, uma tonelada de ouro sai de terras indígenas do sul do Pará todos os anos.  

Foram cumpridos 12 mandados de prisão preventiva e 62 mandatos de busca e apreensão, expedidos pela 4ª Vara Federal Criminal da Justiça Federal no Pará. Em um primeiro momento, os nomes dos investigados pela operação não foram divulgados. A operação teve apoio das Forças Armadas.  

Foram bloqueados pela Justiça: cinco aeronaves; 12 empresas, que tiveram atividade econômica suspensa; 47 pessoas físicas e jurídicas, que tiveram sequestro com bloqueio de imóveis; e também 14 imóveis.  

Outro lado

Por meio de nota a empresa Ofir Gold afirmou que está prestando todas as informações à Justiça Federal do Pará e à Polícia Federal relativas à investigação denominada “Terra Desolata”. “À época dos fatos investigados era contratada da D’Gold DTVM e, na condição de PCO, estava devidamente cadastrada e autorizada junto ao Banco Central a comercializar ouro”, explica.  

A empresa ainda ressalta que toda comercialização de ouro foi realizada no estrito rigor da lei e confia que logo estará tudo esclarecido.

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