“Dawn of Chromatica”, que Lady Gaga soltou nas plataformas de streaming nesta sexta-feira, tinha tudo para ser mais um desses discos de remixes que pouco propõem para grande parte dos envolvidos — o público geral não compra a ideia, a artista em questão pouco usa ou divulga as versões, os DJs fazem seus próprios remixes para as pistas, e por aí vai.
Mas Pabllo Vittar e seu time de produtores foram convidados para recriar “Fun tonight” — uma faixa pouco incensada de “Chromatica” — e tudo fez sentido. O toque do acordeon de William Santos logo na abertura da música avisa: o forró eletrônico é o caminho muito bem escolhido para uma versão que transborda carisma, suingue e Brasil.
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Pabllo convidou Gaga para o universo de “Batidão tropical”, seu álbum mais recente, e a cantora americana se esbaldou por ali. Como bem definiu o DJ paulistano Daniel Moura no Twitter, é como se Pabllo tivesse oficializado uma tradição muito brasileira de fazer remixes que transformam hits pop internacionais em forró, arrocha ou technobrega para vender em CDs ou pen drives em camelôs e feiras populares do país.
Tem tudo que um bom forró eletrônico pede: bateria eletrônica bem marcada, sanfona, solinhos de saxofone… e a dobradinha das vozes de Gaga e Pabllo. Tudo funciona no remix de “Fun tonight”, e a estrela brasileira aproveitou muito bem a oportunidade, mostrando que não é preciso se adaptar ao jeito americano de fazer música para exportar nossos ritmos populares.
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Mas “Dawn of Chromatica” acaba por se apresentar como um álbum irregular e cansativo, se ouvido do início ao fim. Em diversos momentos, fica a impressão de que o excesso de efeitos de produção descaracterizou completamente o que as músicas tinham de melhor, sem prover entretenimento em troca. O maior exemplo é “Sine from above”, na qual Gaga recebe Elton John, que ganhou um remix extremamente distorcido assinado por Chester Lockhart, Mood Killer e perdeu o clima lúdico-festivo do encontro entre duas vozes marcantes do pop.
A produtora venezuelana Arca peca ao transformar “Rain on me” (de Gaga e Ariana Grande) num mosaico de sons que, ao ser remontado em diferentes velocidades e loops, perde unidade e a força de pista que a canção original tinha. Deixa de ser uma história para ser um amontoado de efeitos com vozes ao fundo.
Há acertos, também. Especialmente “Free woman” (com a cantora nipo-britânica Rina Sawayama e o inglês Clarence Clarity), que torna-se um hino pop ainda mais grandioso na explosão de beats proposta, feitos para pistas grandes; e “911”, na qual os símbolos da PC music A.G. Cook e Charli XCX adicionam novos versos e ambientações eletrônicas que levam a canção para um caminho mais obscuro e pesado — o que combina com a letra original, mas sem perder apelo dançante.
“Dawn of Chromatica” acaba se mostrando, acima de tudo, um bom trabalho de curadoria de Lady Gaga e sua equipe, com um apanhado bem plural e descentralizado do que tem sido feito na música eletrônica e para pistas ao longo do mundo através de grandes nomes espalhados pelo mundo. Mas, em alguns casos, talvez seja melhor pular essa primeira introdução.