O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse hoje (19) que ruídos no cenário político têm levado o mercado a aumentar as projeções de inflação do Brasil. “Há muito ruído na parte do funcionamento institucional do Brasil, a briga entre Poderes”, destacou em palestra virtual do Council of the Americas.
Para Campos Neto, as turbulências têm feito com que as perspectivas em relação a situação econômica do país do mercado sejam consideravelmente diferentes das análises técnicas do Banco Central. “Nós percebemos que a desconexão entre os números que nós vemos no mercado e os números que nós temos internamente é maior do que a de costume”, acrescentou.
O último Boletim Focus, pesquisa feita pelo BC com especialistas do sistema financeiro, mostrou que a previsão do mercado para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano subiu de 6,88% para 7,05%. Para 2022, a estimativa de inflação é de 3,90%.
A previsão para 2021 está acima da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional, de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é de 2,25% e o superior, de 5,25%.
Risco fiscal
As mudanças anunciadas pelo governo federal no Programa Bolsa Família também ajudaram, na avaliação do presidente do BC, a trazer incertezas para os operadores do mercado. “Quando o governo explicar o que o Bolsa Família vai ser e como vai se pagar por ele, isso vai acabar com algumas incertezas que nós vemos no mercado”, disse.
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A medida provisória que cria um novo programa, chamado de Auxílio Brasil, foi apresentada ao Congresso Nacional no último dia 9 de agosto. O novo programa social deve pagar, pelo menos, 50% acima do valor médio pago pelo Bolsa Família, que atualmente é de R$ 189. Parte dos recursos do novo programa virá do parcelamento do pagamento de precatórios previsto na PEC e também de um fundo que será criado com recursos de privatizações.
Campos Neto disse que serão feitos todos os esforços para manter a inflação dentro das metas. “Se tem algo que impacta o crescimento sustentável em médio e longo prazo é inflação, que age de modo perverso em muitos aspectos”, disse ao ser perguntado sobre os possíveis impactos das taxas de juros nos índices de emprego e crescimento econômico.
Para o presidente do BC, o descontrole nos preços, inclusive, é um dos fatores que aumenta a desigualdade social. “Pessoas que têm mais dinheiro estão mais protegidas da inflação das que têm menos dinheiro. Isso cria desigualdade. E o governo, para compensar essa desigualdade tem que gastar mais”.
Edição: Valéria Aguiar