O ator Paulo José morreu nesta quarta-feira (11) agosto, aos 84 anos, no Rio de Janeiro. De acordo com o comunicado da Globo, ele estava internado há 20 dias e faleceu em decorrência de uma pneumonia. Paulo deixou a esposa e quatro filhos: Ana, Bel e Clara Kutner, de seu relacionamento com a atriz Dina Sfat, além Paulo Henrique Caruso. Em depoimento para O Globo, Clara falou sobre o pai:
“Filho de uma espanhola, ele tinha quatro irmãos homens. Nasceu no Rio Grande do Sul, depois foi para São Paulo e, em seguida, para o Rio. Ano passado, ele perdeu três irmãos e isso mexeu muito com ele. Era um cara que não falava da morte. Tudo era vida para ele. Acho que a morte dos irmãos abriu um caminho para ele ir encontrá-los.
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Era um cara da vida, muito entusiasmado. A palavra dele é entusiasmo. Uma vez, vi uma coisa bonita do Leonardo Boff: ‘Entusiamo é ter Deus dentro’. Meu pai era assim mesmo, tinha muito amor pela vida. Nos últimos dez anos, principalmente, ele batalhou muito, fez coisas muito lindas para estar vivo. Era muito ativo. A segunda palavra dele é hiperatividade. Fazia muita coisa. Tinha uma oficina de lâmpadas em casa onde fazia luminárias mágicas.
Era muito afetusoso e agregador. Sua casa estava sempre cheia de gente. Lembro disso desde criança, e principalmente, adolescente. Ele morava numa casa perto da minha mãe para a gente poder ir e vir. Minhas irmãs, Bel e Ana, já moravam com ele, e eu fui para lá depois. Era uma casa muito feliz, aberta aos amigos, a porta realmente ficava aberta. As pessoas entravam e saíam, comiam, dormiam lá. Havia mil festas, as pessoas lembram muito delas. Era um lugar muito lindo. Depois, continuou isso já com a Kika, que cozinha muito, todo domingo a gente almoçava lá.
Quando a gente era criança, contar história era o forte dele. A nossa preferida era ‘Joãozinho pé de feijão’. Ele fazia todas as vozes, os personagens, era muito divertido. A gente ficava pedindo para ele contar mais a noite toda. Meu pai era muito apaixonante. Sou muito apaixonada por ele.
Fiquei dois meses com ele na pandemia gravando e fotografando ele todo dia. Nos últimos anos fazia muitas atividades para lidar com o Parkinson: aulas de voz, de ginástica, exercícios para a deglutição. Durante essas aulas de canto, começamos a gravar poemas com ele. Eu editava os vídeos e postava numa página que criei no instagram: @a_arte_nunca_dorme. Tem esse nome porque, há uns três anos, minha casa estava em obra e me hospedei com meu namorado na casa dele. Uma noite comentei com ele que estava ansiosa, que ia fazer um exercício teatral em uma oficina não tinha decorado o texto direito. Ele me deu um beijo de boa noite e, quando acordei, tinha um papelzinho repleto da frase “a arte nunca dorme” escritas por ele de várias formas e cores… Lindo!
Você viu?
O @a_arte_nunca_dorme é um filme sobre ele em vida. Gravei tanta coisa… Guardei o material para um dia… Mas é uma ocisa que demora, é muito difícil mexer num material tão pessoal. Mas a gente tem muita coisa bonita porque ele filmou muita a gente na infância. Nos filmava em super-8, material lindo e muito bem filmado. Mas vamos deixar para o tempo…”.
Meu pai é um personagem muito incrível, todo mundo que conviveu com ele tem uma história divertida, bonita para contar. Um cara muito especial. Convivo com muita gente que trabalhou com ele e as falas dos seus parceiros são sempre muito bonitas. Dá o maior orgulho”.
Clara Kutner, 46 anos, diretora e bailarina