“E o que me importa é não estar vencido! Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos. Meu sangue latino, minha alma cativa”. Era o ano de 1973 quando os versos de Sangue Latino (de João Ricardo e Paulinho Mendonça) saíam de uma forma especial da voz de um jovem cantor, de aparência andrógina, vindo de Bela Vista (MS) e que faria história a partir daquele primeiro disco do grupo Secos e Molhados (que incluiu, entre as músicas, Rosa de Hiroshima, e vendeu mais de um milhão de cópias).
No ano seguinte, Ney de Souza Pereira, que adotou o apelido Ney Matogrosso, faria mais um LP com a banda, e depois partiria para a carreira solo. Mais 33 discos e uma das histórias mais marcantes da música brasileira.
Neste domingo (1º), Ney completa 80 anos. O aniversário do artista é uma das datas a serem celebradas nesta primeira semana de agosto. A coluna Hoje é Dia mostra que o acervo de veículos da EBC é vasto dessa trajetória de cinco décadas de carreira, reinventada em talento e visibilizada pelas impactantes transformações no palco.
No ano de 2014, no programa Sem Censura, Ney Matogrosso ratificou que o seu trabalho de palco mistura o cantor e o ator em toda a carreira para sempre contar uma história. “Eu nunca subi no palco como uma pessoa, mas como uma personagem”, disse.
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O artista voltou a tratar sobre esse assunto no programa Estação Plural, também da TV Brasil. Para ele, essa personagem é um híbrido masculino, feminino, inseto, ave, felino… “Eu gostaria de ser uma águia, um tigre. No palco eu realizo tudo isso”. O artista lembrou-se, na ocasião, que saiu de casa com 17 anos de idade e foi ser militar da Aeronáutica. Chegou também a ser enfermeiro. Mas o destino dele seria a música.
No programa, o crítico Jotabê Medeiros explicou que uma revolução realizada pelo Ney Matogrosso foi comportamental. “Ele demonstrou talento extraordinário com uma trajetória particular. Ele é um cara de cena. Um talento cênico excepcional. Ele seria excepcional em qualquer cultura. Trata-se de um interprete de leque inacreditável”.
O crítico contextualiza que a obra do artista se renova sempre, tanto que mantém um diálogo muito rico com novas gerações. Ainda no Estação Plural, o diretor de arte Marcus Preto acrescenta que Ney foi sempre capaz de transitar por vários gêneros. “Com uma capacidade cênica que o transformou em um dos “maiores artistas do mundo”.
Ney Matogrosso explicou que seu estilo marcante desde os tempos do Secos e Molhados surgiu a partir de reflexões sobre o espaço de representações. “Por que um bailarino pode ter um gesto mais poético e um cantor não pode? Aí quando eu via que as pessoas ficavam perturbadas, descobri que era o caminho. Não podemos ficar parados em trilhos. Sem questionar nada (…) Não tem lado ruim em ser transgressor”, afirmou.
Nas entrevistas, Ney Matogrosso explica que o ser “híbrido” dos palcos desaparece ao final das performances, e dá lugar a uma pessoa mais tranquila. Para ouvir mais de Ney, em um estilo diferente, ouça interpretação dele em especial para homenagear o cantor Lupicínio Rodrigues.