Bruna Junqueira era filha do médico e ex-prefeito de São José dos Quatro Marcos, Antônio Junqueira
Médico e ex-prefeito de São José dos Quatro Marcos, Antônio Junqueira estava no trabalho quando viu mensagens
A irmã da médica Bruna Vendramel Junqueira, de 30 anos, que morreu em um acidente fatal na Serra do Mangaval, na BR-070, em Cáceres (a 220 km de Cuiabá), na noite de sexta (26), contou que o pai delas ficou sabendo da morte da filha quando começaram a mandar imagens em um grupo de Whatsapp.
Bruna era filha do médico Antônio Junqueira, que chegou a ser prefeito de São José dos Quatro Marcos (a 315 km de Cuiabá), onde os pais dela moravam.
Na hora em que descobriu que a filha havia morrido, Antônio estava trabalhando no consultório dele no município.
“Como as pessoas fazem circular fotos muito rapidamente, mandaram fotos em um grupo que ele fazia parte e ele abriu aquilo. O pessoal começou a apagar quando viu [que ele era pai da médica], meu pai falou: ‘não precisa apagar, é minha filha e já sei que a perdi’. Foi assim”, contou Gabriela Vendramel Junqueira, irmã da vítima.
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Gabriela ficou sabendo que a irmã tinha morrido quando um amigo ligou e contou sobre o acidente.
Como as pessoas fazem circular fotos muito rapidamente, mandaram fotos em um grupo que ele fazia parte e ele abriu aquilo
Um mês sem ver a família
Bruna estava atuando na linha de frente da Covid-19 em Cuiabá e não via a família há um mês quando decidiu pegar estrada rumo à casa dos pais, em São José dos Quatro Marcos. Gabriela contou que falou com a irmã pela última vez quando ela visou que estava saindo da Capital.
“Mandou uma mensagem no grupo [onde a família trocava mensagens] falando que já estava saindo. Mandou: ‘família, estou saindo, amo vocês’. Escrevi para ela ficar na paz e para Deus protegê-la. Ninguém respondeu mais nada e ficamos esperando. Sempre que ela chegava em Cáceres, ela avisava”, lembrou.
No entanto, naquele dia, Bruna não conseguiu cumprir a tradição de dar notícias à família.
Ainda muito abalada, Gabriela contou ao MidiaNews que a irmã era muito amada por ela e pelos pais. Além disso, Bruna também tinha uma relação muito próxima com os três sobrinhos, filhos da irmã.
Mesmo com a rotina intensa de trabalho na linha de frente da pandemia, a médica sempre tentava conseguir tempo para falar com a irmã, os sobrinhos e os pais através de chamadas de vídeo.
Gabriela ressaltou que a irmã, que seguiu os passos do pai na Medicina, era o orgulho da família pela personalidade amorosa e por se dedicar tanto ao trabalho.
“A Bruna estava sendo muito elogiada pelos colegas médicos de Cuiabá, ela foi um orgulho para o meu pai. Meu pai sempre achou que eu era a mais forte, então acabava que todos nós cuidavámos muito dela, protegiámos muito. Ele perdeu também a colega de profissão, com quem ele discutia medicina. Eles se ajudavam muito”, disse.
Carro saqueado na estrada
Após o acidente, a família constatou que objetos pessoais que a médica levava no carro foram furtados. Para Gabriela, é uma parte importante da história da irmã.
“Era uma filha indo ver os pais. Não sei o que ela estava levando para a minha mãe. Estamos perto da Páscoa, acho que ela levava ovos de chocolate. Não estamos achando o tablet dela, que ia ficar com as minhas filhas”, lamentou.
O celular e um relógio de Bruna foram recuperados pela famíia.
Gabriela não conseguiu seguras as lágrimas e contou que os pais ainda estão muito abalados. Apesar de descrever a mãe como uma mulher “muito forte”, se entristeceu ainda mais ao lembrar que a matriarca da família sentiu saudades da irmã após o enterro.
Gabriela e a irmã, Bruna Vendramel Junqueira, que morreu em acidente na BR-070, na sexta (26)
“Estamos sofrendo muito. No dia que enterrou, na hora de dormir, ela [a mãe] falou: ‘Gabriela, estou sentindo muita saudade, porque ela ficou longe de nós lá no cemitério’. Falei que ela estava bem e no céu. Meu pai chora toda hora, porque ele tem recebido muitas mensagens bonitas. As pessoas ligam para falar dela. Nem nós sabíamos a proporção do que ela significa”, explicou.
A irmã contou que, enquanto Bruna atuou na linha de frente ajudou a salvar muitas vidas, ela trabalhava há um ano em UTIs.
Mas que sempre pedia para que os pais se cuidassem, já que a realidade nas UTIs era muito triste.
Recentemente, a médica ajudou no tratamento de um primo que estava com Covid-19 e sendo tratado em Cuiabá. Ele se recuperou e conseguiu voltar para casa.
“Pessoa de luz”
Com carinho, Gabriela descreve a irmã como uma pessoa “iluminada” e que estava sempre disposta a ajudar.
“Era uma pessoa de luz, tão disponível para os outros. Teve uma história de vida muito bonita, porque superou uma depressão. Ela seguiu os passos do meu pai, mas nessa caminhada teve uma depressão. A família se uniu, ela se superou e voltou firme para os estudos. Teve as melhores notas e conseguiu reconhecimento dos professores”, disse.
Uma das lembranças marcantes para Gabriela é a formatura da médica, porque a família sabia dos percalços que ela enfrentou para conseguir o diploma de Medicina.
“Foi tudo da forma que ela escolheu. Festejamos tanto com ela, porque sabíamos como foi difícil e ela conseguiu a formatura, que foi linda. Conseguiu todo esse prestígio”, lembrou.
Causa do acidente
A Polícia Civil chegou a informar que Bruna havia tentado fazer uma ultrapassagem, mas a irmã relatou que ela estava atrás de um caminhão, que invadiu a pista contrária para tentar uma ultrapassagem.
O carro da médica, um Toyota Corolla, acabou entrando embaixo de uma carreta que seguida na outra pista. O motorista tentou frear mas não conseguiu evitar a colisão e o veículo acabou ficando atravessado na rodovia, formando um “L” e atingindo a lateral do Corolla de Bruna.
“Minha irmã dirigia muito bem, era muito prudente. Aquela estrada ela fazia a vida inteira, conhecia muito bem”, lamentou.