João, o maestro. Esse é o título do filme que conta a história de João Carlos Martins. Mas, ele mesmo afirma, com bastante humor: “[o nome do filme] deveria ser: O sobrevivente”. A carreira começou aos 8 anos. Logo cedo, Martins desenvolvia músicas ao piano que não deixavam qualquer brecha para ponderações.
O perfeccionismo desencadeou o primeiro grande desafio: uma doença conhecida como distonia focal, típica dos que buscam ultrapassar os limites da capacidade. Não foi o suficiente para pará-lo. João Carlos Martins foi destaque no universo da música clássica muito cedo. Mas, ainda passaria por outros fortes obstáculos.
A história de superação, disciplina e reconhecimento do pianista e maestro que é conhecido pelos dedilhares certeiros ao piano e pela capacidade indiscutível de emocionar o público com suas regências é tema do programa Impressões, da TV Brasil, que vai ao ar neste domingo (19/07), às 22h30.
Paixão pela música
João Carlos Martins é maestro por pura reinvenção. Sua paixão pela música era pautada principalmente pela relação de amor com o teclado. Depois da distonia, Martins ainda sofreu um acidente que ocasionou uma grave lesão em suas mãos e enfrentou a LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e uma forte lesão cerebral que agravou suas capacidades.
No primeiro momento, Martins passou quatro anos de sua carreira usando apenas a mão esquerda para tocar. Pouco depois, a limitação se agravou e, das duas mãos, conseguia utilizar apenas cinco dos dez dedos. O que já era um desafio se tornou uma missão quase impossível: tocar apenas com os dois polegares. Nada parava o mestre. A batalha que perdurou mais de duas décadas, marcada por 24 operações, só teve trégua quando um designer de tecnologia ofereceu uma saída: uma luva biônica que faria com que o músico voltasse a sua plena capacidade.
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O primeiro modelo foi aceito pelo maestro como um gesto de gratidão. Em seguida, Martins convidou o autor do prospecto para explicar detalhadamente suas dificuldades e a luva foi readaptada. “Não vou ser nunca o músico de antigamente, mas o simples prazer de colocar os dez dedos no teclado para realizar uma música, isto, me dá uma satisfação enorme”, afirma.
Superação
Em nenhum momento, Martins sequer cogitou a possibilidade de se afastar da música clássica. Enquanto pôde, ele tocou e procurou a precisão e velocidade ideal para interpretar composições de grandes nomes. Quando as limitações se intensificaram, ele se lançou à regência de orquestras que encheriam corações de emoção.
A fonte de toda determinação é explicada em afirmações aparentemente simples. Uma: “A música explica que Deus existe”, afirma ao citar casos como o do compositor Ludwing van Beethoven que, mesmo surdo, compôs obras reconhecidas universalmente. Outra base para Martins diz respeito à missão que atribui a sua categoria: “Quando você está na frente do seu companheiro [o piano, no seu caso] ou de uma orquestra, a missão é transmitir emoção. A missão de um artista é chegar ao coração do público”, diz.
Ao completar recentemente 80 anos de vida, o maestro que hoje comemora seu reatamento com o piano graças à tecnologia e arrisca ingressar em redes sociais com mais de 170 mil seguidores já fiéis – desafio imposto pelo isolamento social provocado pela pandemia da covid-19 – não se curva ao tempo.
“Aos 80 anos, estou anunciando planos para os próximos 20 anos. Aos 80 anos você pode encarar a idade como início ou fim de uma carreira. Eu encaro como início. A esperança nunca pode sair do seu dicionário ou rotina”, afirma que tem experiência suficiente para adotar tal postura.
Edição: Nélio de Andrade