Enquanto selecionava e pensava no material para escrever o texto da semana na coluna, fiz várias reflexões acerca do mercado literário, do impacto nas vendas, do comportamento nos lançamentos e em como os autores e editoras iriam enfrentar tudo isso. Certamente falar sobre o impacto do isolamento social seria interessante, e ainda falarei sobre, mas no meio desse pensamento todo, me veio um maior: nossa liberdade.
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Há um tempo, um pouco antes da pandemia estourar, recebi um livro que contava sobre a visita do conhecido personagem Pequeno Príncipe à cidade de São Paulo . A ideia é mostrar os principais pontos turísticos da cidade pelo ponto de vista do personagem. Num primeiro momento dei uma folheada e o coloquei junto aos outros para uma futura publicação na coluna. Hoje, em quarentena há mais de 10 dias sem sair de casa, peguei o livro e uma onda de sentimento sobre liberdade me invadiu.
Eu moro na cidade de São Paulo há mais de 30 anos e, embora conheça fisicamente todos os lugares citados no livro, me deu um aperto no coração por não poder (ou ter a consciência nesse momento) de ir visitá-los no momento que eu quiser.
Um deles citados, por exemplo, é o estádio do Pacaembu, palco de vários clássicos e onde fui diversas vezes não só trabalhar (quando fui jornalista esportiva), mas assistir aos jogos do meu time, e que hoje, vejam só, é local de um hospital de campanha.
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Essa pandemia tem nos mostrado muito sobre relações humanas e tem me feito resgatar um dos principais ensinamentos que tive com a leitura original do Pequeno Príncipe (lançado em 1943), que é nos reconectar com o nosso “eu” criança. Essa reconexão com a curiosidade genuína, nos torna mais criativos e com certeza mais amáveis. É a cena clássica do elefante engolindo a jiboia que nenhum adulto conhece enxergar.
Esse momento necessário de isolamento social talvez seja um importante momento de auto conexão, e de um momento que a gente consiga olhar para o mundo e entender como estamos caóticos e vivendo muitas vezes para o trabalho, sem preservar nossas reais relações com filhos, amigos e nossos pais ou parentes próximos.
A gente sabe que todo autor tem uma intenção quando publica um texto, uma obra, mas talvez nem mesmo a autora desse livro “O Pequeno Príncipe visita São Paulo” (editora Tocalivros), Christiane Couve de Murville, conseguiria prever o que poderia se tornar a mensagem sobre liberdade e saudade que me despertou ao ver as imagens dos pontos turísticos da minha cidade.
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Saudades , boas saudades que, espero, em breve poder matar e valorizar, ainda mais, os pequenos momentos de liberdade e prazer que a vida nos proporciona. Cada um irá levar algo como aprendizado dessa pandemia, e que a gente possa refletir sobre como as nossas relações irão se dar a partir de agora. Que o novo velho mundo nos transforme em pessoas melhores.
Para sugestões e pautas: colunaquartacapa@gmail.com